24 abril 2009

O valor de uma imaginação santificada

O valor de uma imaginação santificada
A. W. Tozer

Como todas as outras faculdades que nos pertencem, a imaginação pode ser bênção ou maldição, dependendo inteiramente de como é utilizada e da medida em que é bem disciplinada.

Todos têm em algum grau capacidade para imaginar. Este dom nos habilita a ver sentido nos objetos materiais, a observar semelhanças entre coisas que à primeira vista parecem tão diferentes entre si. Permite-nos saber coisas que os sentidos jamais poderiam dizer-nos, pois com ela somos capazes de ver, através das impressões sensoriais, a realidade que está por trás das coisas.

Todo avanço feito pela humanidade em qualquer campo começou com uma idéia à qual nada correspondia na ocasião. A mente do inventor simplesmente pegava fragmentos de idéias conhecidas e com eles fazia alguma coisa que, não só era totalmente desconhecida, mas também inexistia completamente na época. Assim, "criamos" coisas e, ao fazê-lo, provamos que fomos feitos à imagem do Criador. O fato de que muitas vezes o homem decaído emprega os seus poderes criadores a serviço do mal, não invalida o nosso argumento. Qualquer talento pode ser usado para o mal como para o bem, mas, não obstante, todo talento provém de Deus. Algumas pessoas que erroneamente confundem a palavra "imaginativo" com a palavra "imaginário", talvez neguem que a imaginação é de grande valor no serviço de Deus.

O Evangelho de Jesus Cristo não negocia com coisas imaginárias. O livro mais realista do mundo é a Bíblia. Deus é real, os homens são reais, e, real é o pecado, bem como a morte e o inferno para onde o pecado leva inevitavelmente. A presença de Deus não e imaginária, e a oração não é a indulgência de uma deleitável fantasia. Os objetos que absorvem a atenção do homem que ora, conquanto imateriais, são, contudo completamente reais; mais certamente reais, afinal se haverá de convir, do que qualquer objeto terreno.

O valor da imaginação purificada na esfera da religião está em seu poder de perceber nas coisas naturais sombras de coisas espirituais. Ela capacita o homem reverente a "Ver o mundo num grão de areia e a eternidade numa hora".

A fraqueza do fariseu do passado era sua falta de imaginação, ou, o que dá na mesma, sua recusa em permitir-lhe entrar no campo da religião. Via o texto com a sua definição teológica guardada com cuidado, e não via nada, além disso.

"Uma prímula à margem do rio era para ele uma prímula amarela, e nada mais." (Prímula: planta ornamental e medicinal da família das primuláceas)

Quando Cristo veio com a Sua esplendente penetração espiritual e com Sua fina sensibilidade moral, parecia ao fariseu um devoto de outra espécie de religião, o que Ele realmente era, se o mundo o tivesse tão-somente compreendido. Ele podia ver a alma do texto, enquanto que o fariseu só podia ver o corpo, e podia provar sempre que Cristo estava errado apelando para a letra da lei ou para uma interpretação consagrada pela tradição. O abismo que os separava era grande demais para permitir que coexistissem. Assim, o fariseu, que estava em condições de fazê-lo, entregou o jovem Vidente à morte. Tem sido sempre assim, e creio que assim será sempre, até que a terra se encha do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar.

A imaginação, visto que é uma faculdade da mente natural, necessariamente tem de sofrer por suas limitações intrínsecas e por uma inerente inclinação para o mal. Embora a palavra, como se acha na Versão do Rei Tiago (King James Bible), normalmente não signifique imaginação, mas simplesmente raciocínio de homens cheios de pecado; não escrevo com o fim de desculpar a imaginação não santificada. Bem sei que dela como de uma fonte poluída, jorraram correntes de idéias malignas que através dos anos têm levado os homens a um comportamento desordenado e destrutivo.

Contudo, uma imaginação purificada e dirigida pelo Espírito é coisa completamente diversa, e é o que tenho em mente aqui. Anseio por ver a imaginação liberta de sua prisão e recebendo o lugar que por direito lhe cabe entre os filhos da nova criação. O que estou tentando descrever aqui é o sagrado dom de ver, a capacidade de olhar além do véu e contemplar com maravilhado espanto as belezas e os mistérios das realidades santas e eternas.

A pesada mente presa à terra não dá crédito ao cristianismo. Permitindo-se-lhe dominar a igreja bastante tempo, ela o forçará a tomar uma destas duas direções: ou a do liberalismo, no qual achará alívio numa falsa liberdade; ou a do mundo, onde achará prazer desfrutável, mas fatal.

Mas pergunto se tudo isso não está incluído nas palavras do nosso Senhor, registradas no Evangelho Segundo João: "Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará cousas que hão de vir. Ele me glorificará porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar" (16:13, 14).

Possuir mente habilitada pelo Espírito é privilégio do cristão, sob a graça, e isto abrange tudo quanto venho tentando dizer aqui.

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