28 agosto 2012

A vaca sagrada do Cristianismo

By Paulo Emanuel

Recebi de um decano mestre um artigo intitulado Sermão: A Vaca mais sagrada do Protestantismo.

Seu autor, um desconhecido, pelo menos o texto não o nomina.

Os filhos de Coré(ou um dentre eles) fala(m) no salmo 45:1 que a sua língua era pena afiada. A minha não poderia deixar de ser, porque com certeza sou bem mais erudito que eles, em razão de havê-los lido e a outros depois da morte deles e o conhecimento lima a pedra bruta, que sou eu sem letras. Portanto, o presente artigo é uma réplica ao texto do autor desconhecido.

Desde o século IV da era cristã surgiram os iconoclastas, pessoas dadas a destruir os ícones, que eram as relíquias sagradas(de santos mortos) e as imagens artisticamente pintadas ou esculpidas. Sem dúvida, judeus e maometanos contribuíram para a efervescência deste movimento, porque foram tão açoitados por Deus no tocante à idolatria que passaram a vergastar outros povos, física e mentalmente quanto às imagens de escultura e quejandos(veja-se Êxodo 20:4,5).

Contudo, houve épocas em que o poder imperial romano se prevaleceu da iconoclastia para confrontar o poder da igreja instituída(a católica romana) e para esvaziar a hegemonia que Constantino havia outorgado à igreja, resolveram "peitar" os papas que, em represália, passaram a ser mais "idólatras" ou iconófilos.

Questão puramente política, à qual muitos protestantes se aferram hoje e que no Novo Testamento é bem mais ampla que o quesito mosaico.

En passant sobre estes fatos, vamos à réplica propriamente dita. O autor desconhecido da Vaca Sagrada, ainda bem que é desconhecido. Porque não deu a cara a tapas e seu ocultismo lhe vale o que Paulo apóstolo chama de "dar socos no ar", o que farei agora, pois não tendo o nome dos bois, acabo por aguilhoá-los na sombra.

Todo o argumento do tal autor centraliza-se na desqualificação do sermão como uma entidade pagã que se imiscuiu na história da igreja protestante e que hoje domina o cenário existencial da mesma. O sermão, segundo ele, é uma herança da retórica greco-latina e que, por este motivo, não merece figurar no escopo da igreja de Jesus Cristo, para além das denominações protestantes.

Esquece-se o autor de algumas questões fundamentais e outras práticas, as quais abordaremos em seguida. Em primeiro lugar, vamos aos argumentos mais rasos. Li o artigo em um papel, cuja origem é o papiro, planta cultivada às margens do Rio Nilo, no Egito. É bem verdade que do Egito vieram os faraós, as pragas, as enfermidades, mas do Egito também veio o Filho de Deus, em uma segunda procedência, haja vista o que escreveu Oséias 11:1 , corroborado por Mateus: -"Do Egito chamei o meu Filho"( capítulo 2, versos 13 a 15)

Então, não podemos adorar a Jesus, porque Ele veio do Egito, quando José e Maria fugiram do Herodes, avisados pelo anjo que depois os trouxe de volta para Nazaré da Galiléia.

Em segundo lugar, o papel que li veio digitado a partir de um computador. De acordo com os pesquisadores, o abaco foi a primeira ferramenta usada para uso em computação, a qual proveio da Babilônia, em cerca de 2400 antes de Cristo. Como a Babilônia é a mãe das meretrizes de toda a terra, um sistema iníquo condenado por Deus que manda, nada mais , nada menos que 7 vezes: -"Sai dela, povo meu", o tolinho autor desconhecido também desconhece que utilizou-se de um instrumento do Anticristo (pois a Babilônia é a sede dele), para condenar o sermão que, para ele, é um instrumento anticristão, dado que promove o não crescimento da igreja.

O néscio escriba não pesquisou bem as Escrituras Sagradas e a atitude das mesmas para com os oradores.

Lemos em Atos dos Apóstolos, capítulo 18, versos 24 a 28 que apareceu em Éfeso um orador eloquente, fervoroso de espírito e poderoso nas Escrituras, cujo nome era Apolo. Este conhecia o Caminho, ou seja, a mensagem cristã, porém até o batismo de João.

Ao invés dos irmãos de Éfeso, sobretudo os judeus Áquila e Priscila, atirarem pedras sobre o irmão Apolo, porque era um orador inflamado (fervoroso significa cheio de fogo), tomaram-no à parte e lhe expuseram (olha o sermão expositivo aí) com maior exatidão o Caminho de Deus.

Logo em seguida, escreveram aos irmãos da Acaia recomendando o orador e diz o texto que ele aproveitou muito aos que, pela graça, haviam crido.

Se fosse o iconoclasta desconhecido, autor da Vaca Sagrada, provavelmente Apolo sofreria uma represália, como muitos pentecostais incultos faziam, quando na Renovação Espiritual(início) pregávamos um sermão mais eloquente.

Além de substituírem eloquência (a arte de falar bem) por histrionice, isto é, gritaria, histeria e descontrole emocional no púlpito, verdadeira orgia de profetas de Baal ( I Reis 18:25-29), criticavam os mestres, a quem Paulo recomendou "esmerarem-se no ensino"( Romanos 12:7), usando as Sagradas Escrituras como papel higiênico.

Com isto me refiro ao mau uso das palavras de Paulo, o maior erudito do Novo Testamento,quando dizia: -"A letra mata e o espírito vivifica"(II Coríntios 3;6). Como Jesus chamou a várias pessoas de néscios e tardos de coração, eles se esqueceram de ler que o Mestre estava denunciando os retardos mentais, de que Paulo denunciou os gálatas, no capítulo 3, verso 1.

Ali a palavra insensato significa "sem mente, sem miolos".

Então, o pseudoapologeta da Vaca Sagrada cochilou e dormiu quanto aos textos aqui considerados. Além de tardo de mente, é preguiçoso intelectual, pois seu artigo é uma pinçagem de textos da história filosófica e bíblica, nada de ciência pura, que deve ser o caso da hermenêutica.

Existe uma denominação nos Estados Unidos da América do Norte, cujo nome é Amish.

Estes irmãos, baseados em uma "eisogeseis", ou seja , uma exegese introduzida no texto sagrado, ao contrário do que deveria ser, isto é, extraída dele, desde sua fundação não se utilizam da tecnologia moderna, porque acham que ela é "coisa do mundo" e João fala em sua epístola para "não amarmos o mundo"( I João 2:15).

Só que eles se esquecem que, mesmo a sua primária utilização do mundo criado , é alguma evolução em relação às tecnologias passadas. Por exemplo, o ferro em brasa que eles usam para passar as roupas é uma evolução de outro material que se usava para deixar as roupas mais apresentáveis. O balde que usam para tirar água das cisternas também já é uma evolução de outro tipo de material mais antigo. A energia da lamparina é uma evolução da descoberta do elemental fogo.

Então, não é que eles não amem o mundo. Eles apenas não usam do mundo contemporâneo e se atêem a épocas passadas, achando que nelas estão os verdadeiros costumes.

Finalizando, pois Rui Barbosa dizia: -"Sê breve e agradarás". O tolinho "exegeta" da Vaca Sagrada se esqueceu de uma palavra hebraica para pregador itinerante, que era comum antes dos tempos de Cristo, que foi substituída pelos apóstolos, igualmente peregrinos na ação querigmática (de pregar).

Quando Josafá mandou levitas por todas as cidades, anunciando a sua reforma (II Crônicas 17:9), estes se basearam na lei do Senhor que é perfeita(Salmo 19:7), portanto o melhor vernáculo da época.

Quando Pedro e João se apresentaram ao sinédrio, a alta cúpula da religião judaica reconheceu que eles haviam estado com Jesus (Atos 4:13), apesar de serem homens iletrados(idiotai, no grego) e incultos(agramatai, sem gramática), porque a Jesus foi dada língua de eruditos(Isaías 50:4), ele que fora considerado para figurar entre os grandes poetas gregos(João 12:20-30).

Portanto, senhor autor desconhecido. Do Deus desconhecido, adorado pelos atenientes(Atos 17:23-34), Paulo extraiu uma pérola literária de improviso, citando Cleanto e Arato, poetas de seu tempo e Epimênides de Cnossos, um profeta grego anterior a ele.

Porque ele fora chamado a pregar tanto a pequeno, quando a grande(Atos 26:22), palavras dele mesmo. Da cobra, é extraído o soro antiofídico (anticobra), assim como da Babilônia, Deus extraiu Abraão, do Egito Deus extraiu Moisés e das cortes israelitas, Deus extraiu Isaías.

O resto, senhor autor desconhecido, é criancice espiritual.

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