22 dezembro 2009

UMA GRAÇA QUE POUCOS DESEJAM – Parte II

Autor: Caio Fábio

Continuação...

PRIMEIRO PRINCÍPIO

A boa situação financeira não deve ser pré-requisito para alguém contribuir.

A igreja da Macedônia resolveu começar a contribuir numa hora em que qualquer economista chamaria de “momento de loucura” ou de “euforia irresponsável”.

Na realidade, se havia uma igreja necessitando pedir oferta era a Macedônia. Eles eram quase tão pobres quanto aqueles aos quais resolveram ajudar:'


“Porque em meio de muita tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade” (II Cor. 8:2).

Há pessoas e igrejas que estão esperando ficar ricas para então começarem a investir em missões, interna e externamente. Há outros que desculpam sua falta de interesse na graça de contribuir alegando a situação financeira do país. Há também alguns que só se movem na direção da contribuição se ouvirem a mais espetacular de todas as histórias de necessidade e carência. Eis a tentação da maioria das missões: exagerar no espetáculo da miséria a fim de obter ajuda.

A nós que estamos envolvidos em trabalhos e projetos que sobrevivem pela fé na provisão de Deus através da consciência dos irmãos quebrantados, fica cada vez mais claro que quanto mais rica uma pessoa se torna, menos ela dá, proporcionalmente ao que possui e ao que poderia.

A contra partida também é verdadeira: em geral, quanto mais pobre a pessoa é, mais desproporcionalmente superior a sua pobreza é a sua oferta.

Isso acontece porque na maioria das vezes a riqueza material é inversamente proporcional à riqueza da graça no coração. Os que menos têm mais dependem dos favores divinos:

“A profunda pobreza superabundou em grande riqueza de generosidade” (II Cor. 8:2b).

A alguns tal afirmação pode parecer excessivamente forte, ainda que eu não tenha dito que sempre é assim que acontece, mas que na maioria das vezes é dessa forma que as coisas se desenvolvem no coração humano. Mas para aqueles que possam ter alguma dúvida, vale reler o que Jesus disse ao comparar ricos e pobres no ato de ofertar:

“Assentado diante do gazofilácio, observava Jesus como o povo lançava ali o dinheiro. Ora, muitos ricos depositavam grandes quantias.

Vindo, porém uma viúva pobre depositou ali duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante.

E, Jesus, chamando seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhe sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento.” (Marcos 12:41-44).

Note como as grandes quantias dos ricos só eram consideradas grandes em relação às pequenas quantias dos pobres. Todavia, os ricos davam de sua sobra, os pobres de seu sustento.

No entanto, entre nós, a situação é ainda pior do que a daquele dia quando Jesus se assentou diante do gazofilácio para avaliar essas desproporções. No meio deles, os ricos pelo menos davam grandes quantias, ao passo que, entre nós, pouquíssimos são os que dão alguma coisa, e há daqueles que quando fazem ainda tentam administrar seu próprio investimento.

As dádivas do tempo da riqueza são óbvias e ordinárias, mas as dádivas do tempo da pobreza são extraordinárias expressões de fé e amor.

Voltando ao enunciado de nosso primeiro princípio, devo dizer-lhes: não espere pagar todas as contas, ficar rico, bem empregado ou formado no curso universitário para começar a contribuir. Faça-o a partir de hoje, ainda que as circunstâncias não sejam favoráveis.

Somente os que cantam como Habacuque um hino na tormenta podem contribuir mesmo em meio à escassez:

“Ainda que a figueira não floresce, nem he há fruto na vide; o produto da oliveira mente, e os campos não produzem mantimento, e as ovelhas forem arrebatadas do aprisco e nos currais não há gado, todavia eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação” (Habacuque 3:17 e 18).

Eu creio que a hora ideal para se investir em missões é justamente no tempo da adversidade. Quando isso acontece é grande a graça a nós concedida, e muito maior ainda é o fruto desse dadivoso amor. Digo isso, “não porque eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito” (Fp. 4:17).



SEGUNDO PRINCÍPIO

Alegria, generosidade, voluntariedade e boa-vontade são motivações indispensáveis a quem quer contribuir.

Só se alegra em contribuir quem entende tal possibilidade como graça, ou seja, favor imerecido. Somente os que têm acesso ao extraordinário-imerecido é que o vêem como objeto de alegria indizível.

Na realidade trata-se de algo além da alegria ordinária. De fato é uma “abundância de alegria” (2b).

É uma alegria extravagante e extra-vasante. Esta motivação é tamanha que desencadeia espaço emocional no qual cabe o desejo da bondade. O espaço que a grande alegria faz surgir para os bons desejos é a generosidade.

“Gene”-rosidade bem que poderia vir da raiz de “gene”, de sêmem da vida e da procriação. Mas também poderia vir de “genero”-sidade, ou seja, de pureza de “gênero”, de humanidade essencial, de verdadeiramente gente, humano...

Não consultei nenhum dicionário etimológico (afinal, estou escrevendo essas linhas num hotel em Amsterdã - 1986), mas o sentido da palavra generosidade, parece encurralar-se nos dois becos etimológicos acima sugeridos.

Se assim é, fica claro que a alegria de poder dar é o que mais nos faz genuinamente humanos. Nesse caso o exacerbado desejo de ter é o que mais nos desumaniza. Estranhamente, quanto mais (alguém) se dá, mais (alguém) se tem em essência planificada (João 12:25).

Daí o apóstolo mencionar a “grande riqueza de sua generosidade” (2c). Era uma riqueza humana.

O passo seguinte é desencadeado pela germinação da alegria e da generosidade. Ambas fazem surgir a voluntariedade. Vem à luz assim a raiz mais profunda do desejo automático e espontâneo de dirigir a vontade na direção da vida do semelhante.

Isso porque só existe voluntariedade se o sentimento de dirige a outros, por que a auto-voluntariedade nada mais é que educado egoísmo.

A voluntariedade tem de ser, portanto, canalizada para fora do âmbito pessoal daquele que a sente. E mais ainda, a voluntariedade é um exercício da vontade para além das possibilidades ordinárias, cômodas e imediatas:

“Porque eles... na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários...” (3).

A voluntariedade é a atitude primitiva e inicial da vontade em concepção. Por isso o próximo passo é a transformação da tendência em comportamento:

“Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem, e não segundo o que ele não tem” (12).

A boa vontade já é a voluntariedade transformada em ação concreta. Nesse ponto a pessoa já passou da compaixão, da inclinação e do desejo abstrato e já meteu a mão no bolso e deu; já tirou o talão de cheque e o assinou; já dispôs seus bens na direção de outros de maneira concreta, historiável e tangível.

TERCEIRO PRINCÍPIO

A contribuição deve ser extra-ordinária e não ordinária.

Dar o que se têm sobrando, ou o que não nos faz falta, ou o que não nos cria limitações não é ainda o dar conforme se requer no Novo Testamento.

Paulo diz: “A profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza” (2b).

Tamanha foi a grandeza humana do gesto dos macedônios que eles deram “na medida de suas posses e mesmo acima delas se mostraram voluntários” (3b).

Dar na medida das posses é um bom começo. Mas ainda melhor é dar acima delas. Quem dá o dízimo dá apenas na medida de suas possibilidades. Mas o Novo Testamento nos convida a suplantarmos a velha medida decimal. Somos exortados a deixarmos o ordinário e a penetrarmos na porta dimensional da generosidade extra-ordinária.

Afinal, o ordinário até os pagãos conseguem realizar, mas o extra-ordinário, somente os filhos do Pai de extra-ordinário amor estão aptos a realizar (Mt. 5:43-48). Por isso é que eu digo sempre que o dízimo é apenas um bom ponto de partida, mas é um limitadíssimo ponto de chegada.



A advertência de Paulo é no sentido de que cresçamos em generosidade, para que não nos transformemos em avaros escondidos nas limitadas fronteiras do dízimo que jamais se transforma em grandeza acima do óbvio.

Conheço pessoas que até seu dizimo dado regularmente é sistematicamente dado com “fiel avareza”. Não obstante haver esses casos há também queridos irmãos que estão se preparando para dia a dia aumentarem o tamanho do seu coração, na expressão de uma generosidade cada vez maior. A dádiva desses irmãos é “expressão de generosidade, e não de avareza” (9:5).

http://www.caiofabio.com/2009/conteudo.asp?codigo=03194

Continua...

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CD FREE / CD GRATUITO
Meu bom irmão Beto Verli disponibilizou em seu site seu primeiro CD para download gratuito. Vale a pena conferir e fazer o download, especialmente a canção "Vem Louvar".

http://www.betoverli.com/?page_id=407

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