31 dezembro 2009

UMA GRAÇA QUE POUCOS DESEJAM – PARTE VII (FINAL)

Categoria: Religião

DÉCIMO SEGUNDO PRINCÍPIO

A contribuição gera um processo de um louvor que se retro-alimenta indefinidamente.

Todos os movimentos da graça divina são movimentos de retro-alimentação:

“Bem-aventurados os misericordiosos, por que alcançarão a misericórdia” (Mt.5:7).

“Pois ao que tem, se lhe dará, e terá em abundância” (Mt. 25:29a).

Talvez a afirmação mais forte de que graça gera graça esteja no texto de Efésios 1:6.

Literalmente, o apóstolo diz que recebemos graça gratuita.

Com isso ele está querendo ensinar que antes de recebermos a graça, já a própria graça nos preparava para isso.

Nesse caso, diríamos que há uma graça de preparação que nos habilita para a graça de recepção:

“nos predestinou para ele, para a adoção de filhos... para o louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no amado”.

E a bendita redundância de uma graça gratuita.

Paulo entendia esse princípio de que a virtude gera virtude, num “efeito cascata”, também em relação ao louvor e as ações de graça:

“Por que o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus, visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante da graça de Deus que há em vós” (II Cor. 9:12-14).

Para o meu sabor pessoal este é um dos trechos mais belos de todo o Novo Testamento.

Não tanto pela sua confecção literária, ou pela profundidade teológica, mas, sobretudo, pela sua singeleza e simplicidade prática.

Paulo diz que a graça de dar desencadeia um processo de virtudes incomparáveis. Dar é uma das mais profundas formas de edificar não somente o aspecto social e econômico do outro, mas, antes disso, de edificar-lhe a alma.

Quem recebe com gratidão e reage à dádiva recebida conforme ensina a palavra de Deus, transformar-se-á numa bênção incomparável para aquele irmão que o socorreu.

Inicialmente Paulo diz que a dádiva promove um bem que está para além da assistência imediata aos santos: “redunda em muitas ações de graças” (9:12).

Essas ações de graças significam uma excepcional manifestação de glória ao nome de Deus pelos filhos que Ele tem, e cujos corações são parecidos com o do Pai-generoso:

“Visto como, na prova desta ministração, glorificam à Deus...” (9:13a).

A glorificação do nome de Deus, feita por aqueles que foram o objeto da contribuição, se baseia fundamentalmente em duas atitudes que os crentes dadivosos revelaram e historificaram enquanto contribuíam:

1. Demonstração prática de seu compromisso real com as demandas do evangelho:

“Glorificavam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo” (9-13b).

Para os receptores agradecidos, o gesto dos irmãos contribuintes era a suprema manifestação da “orto-praxia”. A “confissão deles” – ortodoxia – transformara-se em fato.

Que bela e tremenda lição! Não importa quanto minha doutrina e confissão estejam corretas, mas sim, o quanto eu as encarno.

A ortodoxia só tem valor nos compêndios doutrinários.

Na vida o que vale é a orto-praxia. Jesus disse que deveríamos ser orto-práticos e não ortodoxos. Os fariseus eram orto-doxos, mas não eram orto-práticos (Mt. 23:3).

Parafraseando Tiago, diríamos:

Tu tens doutrina e eu tenho vida; mostra-me essa tua doutrina de compêndio teológico, porém desencarnada e livresca, e eu, com minha vida, te mostrarei em que doutrinas creio. (Tg. 2:18).

Se a fé vem pelo ouvir a palavra de Deus (Rom. 10:17), no entanto, ela se mantém pelo fazer a vontade de Deus (Rm.1:5b).

Foi Jesus quem disse que a doutrina não é pra ser apenas aceita intelectualmente e discutida teologicamente. A doutrina tem que ser encarnada:

”Se alguém quiser fazer a vontade Dele (o Pai), conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus, ou se falo por mim mesmo” (João 7:17).
Na mente do Senhor o desejo do encarnar o Verbo (a doutrina) é o que nos dá acesso ao conhecimento da palavra.

Neste sentido, a teologia explica apenas uma conduta já assumida como compromisso com o mínimo que já se sabe da vontade de Deus.
Isto posto, Paulo diz aos coríntios, que o gesto contributivo deles era uma encarnação orto-prática do evangelho que eles confessavam. Primeiro vem o verbo, depois a encarnação. Mas é a encarnação que explica o verbo na História.

2. Demonstração prática a respeito da grandeza e dilatamento dos seus corações:

“Glorificam a Deus pela... liberalidade com que contribuís para eles e para todos...” (9:3b).

O tamanho de um coração é medido pelo tamanho de sua liberalidade material. Esse é o critério máximo. Não há outra referência. Pode-se orar como ninguém, falar “eu te amo” como poucos, sorrir constantemente, tratar cordialmente, etc...

Todavia, o critério máximo com o qual a bíblia avalia a grandeza de um coração humano, é mediante a capacidade de dar. Ainda que o que se dê seja o “pouco-tudo-que-se-tem” (Mc. 12:41-44). Mas esse é o critério. O resto é decorrência. É a maquiagem do coração, mas não o seu aspecto verdadeiro.

Prosseguindo, Paulo diz que a contribuição não somente gera ações de graça e glória ao nome de Deus pelas expressões de coerência e liberalidade de seus filhos dadivosos, mas também cria, nos receptores do benefício material, uma intensíssima atitude de oração intercessora a favor dos irmãos benfeitores. O apóstolo afirma: “eles oram a vosso favor...” (9:14).

Como dissemos inicialmente trata-se de um “efeito cascata”: contribuir desencadeia gratidão, glória ao nome de Deus e orações.

Quando alguém é angustiado e atribulado pede a Deus que o socorra. Mas quando Deus resolve o problema da aflição de alguém, mediante mãos humanas – aliás, aquelas que Ele mais usa – então, esse que foi o alvo do livramento de Deus, passa a orar a Deus em favor daquele que foi a resposta de Deus para o socorro das suas angustiantes necessidades.

Na necessidade, ora-se a Deus. Na gratidão, ora-se a Deus a favor daquele a quem Deus usou para socorrer-nos. E não nos esqueçamos jamais de que as mãos e os recursos com os quais Deus conta para resolver situações de aflição e necessidade humana na história dos homens são os nossos recursos, sejam eles de afeto, ações, brados, roupas, afagos, ou dinheiro (Mt. 25:31-46).

Que coisa linda!

São justamente as orações dos agradecidos pelas nossas generosas ações que liberam a força da graça a nosso favor outra vez.

As ações de socorro libertam orações de gratidão no peito dos irmãos e essas orações liberam a graça de Deus sobre aqueles cujas contribuições já tinham sido promovidas pela graça. E não somente isso, mas o ciclo prossegue gerando mais uma virtude: o afeto.

Paulo diz:

“Oram eles a vosso favor, com grande afeto...” (II Cor. 9:14b).
Há três ocasiões na bíblia nas quais se menciona como é que o afeto e o amor nascem nos corações:

1. Quando se encobre uma transgressão para não prejudicar o outro:

“O que encobre a transgressão adquire amor, mas o que traz o assunto à baila, separa os melhores amigos” (Pv. 17:9).

2. Quando se arrisca a vida, a saúde ou a integridade em favor de alguém:

“Assim, querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos... a nossa própria vida, por isso que vos tornastes muito amados de nós” (I Tss. 2:8).

3. Quando se é objeto de grande socorro financeiro: ”Oram eles a vosso favor, com grande afeto” (II Cor. 9:14b).

Vale observar que nas três situações é atitude de generosidade que tanto faz nascer o amor em nós por outros como em outros por nós.

Em geral os ricos não são objetos de orações positivas. Quando são objetos de oração, tornam-se quase sempre, alvos de orações-negativas.

Explicando: normalmente ninguém ora a favor dos ricos porque sempre se supõe que eles não necessitam de orações a seu favor porque nada lhes falta.

No entanto, quando se ora a Deus mencionando-os é no sentido de que Deus lhes quebrante e abra o coração; ou seja, trata-se de uma oração negativa, na medida que ela é uma intercessão no sentido de que o pecado da insensibilidade ou da indiferença lhes seja banido dos corações.

Mas quando pessoas oram grata e positivamente a favor dos que têm posses, foi porque eles se tornaram generosos e manifestadores da graça de Deus a favor dos menos favorecidos. São justamente esses necessitados feitos objeto da justiça dos que têm mais recursos, aqueles que terão justas e muitas razões para orarem afetuosamente a favor deles.

Sim! A graça gera graça!

Tudo começa com graça. Tudo acontece na graça. Tudo se transforma em graça outra vez.

É a lei de Lavoisier aumentada e feita teologia positiva: na graça tudo se cria, nada se perde, tudo se transforma.

Por essa razão Paulo diz que os crentes pobres da Judéia eram gratos em virtude da “superabundante graça de Deus” que havia naqueles irmãos dadivosos (II Cor. 9:14b).

Esse é o processo de um louvor que se retro-alimenta indefinidamente.

DÉCIMO TERCEIRO PRINCÍPIO

A contribuição financeira é a resposta material à compreensão de que se recebeu o dom inefável: Jesus.

A coisa mais admirável que se encontra na teologia cristã é a sua capacidade de unificar a existência, devocionalizando-a, liturgizando-a e sacramentalizando-a:

“Seja o mundo seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as coisas futuras, tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus” (I Cor. 3:22).

Em Cristo, acabam-se as dicotomias, os dualismos, as separações, as departamentalizações e os seccionamentos. A vida se unifica e tudo tem que apontar na direção da glória de Deus.

No acontecimento da transfiguração de Cristo as declarações feitas acima se tornam geografia, corpo e história.

Note como “o rosto se transfigurou e as vestes resplandeceram de brancura” (Lc. 9:29).

Até o nevoeiro da montanha se tornou luminoso e pleno da glória de Deus (Mt. 17.5).

Tudo isso se deu num “alto monte” (Mt 17:1b).

Provavelmente o Hermom, pelo fato de que no contexto antecedente, Jesus aparece no extremo norte do país indo para Cesaréia de Felipe, cidade erigida no sopé daquele monte (Mt. 16:13).

O belo, no entanto – como observou Francis Schaeffer – é que o Novo Testamento diz: “Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João e levou-os a sós, à parte, a um alto monte.

Foi transfigurado diante deles...” (Mc. 9:2). Após aquela manifestação da “Avant Première” do Reino de Deus (Mc. 9:1), o texto prossegue dizendo: “No dia seguinte desceram eles do monte...” (Lc 9:37).

Introduzimos essa narrativa compilada da transfiguração de Jesus apenas para demonstrar que afirmei no intróito: a coisa mais admirável da fé cristã é sua capacidade de unificar a existência.

Senão vejamos:

1. A geografia pode ser santificada: “Foi para as bandas de Cesaréia de Felipe” (Mt. 16:13).

Diga-se de passagem que aquela era uma das regiões mais idolatradas do país, desde os tempos anteriores à ocupação israelita. E continuou sendo até a ocupação romana, quando à cidade foi dedicada ao “divino” César.

Ali havia, nos dias de Jesus, toda a estrutura gentílica dos romanos e também altares com nichos a deuses pagãos. Mas é aí na “geografia da profanação e da idolatria” que Deus resolveu fazer uma Catedral de olivais e pedras lisas e brancas, a ponto de Pedro chamar o lugar de “monte santo” (II Pedro 1:18).

2. Os fenômenos naturais podem ser glorificados: “Uma nuvem luminosa os envolveu” (Mt. 17:5).

Ora, o Hermom sempre foi conhecido pela sua capacidade de condensar nevoeiros, pela sua grande altitude (2.300 metros).

Por isso, ele foi, é, e sempre será uma das maiores bênçãos de Deus para Israel, pluviometricamente falando; Pois são seus degelos que engrossam as águas do Jordão, como também é o seu orvalho que molha – soprado pelos ventos do norte – toda a região da Judéia, bem menos densa de orvalho noturno (Sl. 133:3).

Nesse caso, Deus não fez “surgir do nada” uma nuvem. Ele apenas glorificou as que ali havia. Os fenômenos naturais podem ser cheios da glória do Senhor (Sl. 29).

3. A história pode e deve ser o espaço da glória de Deus: “Seis dias depois... levou-os... a um alto monte. Foi transfigurado... No dia seguinte desceram do monte” (Mt. 9:2; Lc. 9:37).

Existe um tempo antes da transfiguração, existe um tempo durante a transfiguração, e existe um tempo depois da transfiguração. A transfiguração foi histórica e, portanto, capaz de santificar a História e o calendário da vida humana.

4. O físico pode ser glorificado: “O seu rosto resplandecia como o sol” (Mt. 17:12).

Acabam-se aqui as heresias gnósticas e as dicotomias entre material e espiritual, entre físico e abstrato. A glória daqui em diante tem cara e tem corpo. Jesus deu fisionomia a Shekiná de Deus. O corpo pode ser a catedral da glória (I Cor. 6:19).

5. O cultural pode ser glorificado: “As suas vestes tornaram-se brancas como a luz” (Mt. 17:2).

O roupão judaico foi santificado juntamente com tudo mais. Com isso deve terminar a santificação de certas modas sub-culturais e a profanação de outras.

“Eu sei, e disso estou persuadido no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse é impuro” (Rm. 14:14).

“Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque, tanto a mente quanto a consciência deles estão corrompidas” (Tito 1:15).

Bem. Talvez você pergunte: o que isso tudo tem a ver com a nossa proposição inicial?

Qual é a ligação entre esse arrazoado acerca de transfiguração de Cristo e a afirmação de que contribuição financeira é a resposta material à compreensão de que se recebeu dom inefável?

Eu quero iniciar a resposta com uma pergunta: E se no roupão glorificado de Jesus houvesse uma nota de cem cruzados e um cheque de mil cruzados – desculpando a defasagem histórica e o anacronismo econômico – eles ficariam também resplandescentes e transfigurados juntamente com o monte (II Pd. 1:18), o dia (Mc. 9:2, Lc 9:37), a geografia (Mt. 16:13), o corpo (Mt. 17:2) e os elementos culturais (Mt. 17:2b)?

A resposta é óbvia. É claro que sim!

Fiz tão longa introdução a este último princípio apenas para tentar fazer você compreender definitivamente que os seus bens materiais podem, devem e precisam ser glorificados com a glória de Deus.

É por causa disso que Paulo associa a questão da contribuição ao tema dos temas e à graça das graças: a salvação em Jesus.

Após discutir e expor princípios de contribuição, o apóstolo conclui dizendo:

“Graças a Deus pelo dom inefável” (II Cor. 9:15).

Por que Paulo termina assim as suas reflexões? Simplesmente porque o assunto que lhe tomara bastante tempo de exposição (Em nossa bíblia são dois capítulos), era algo santo e puro. E por essa mesma razão, lhe trazia à mente a mais santa de todas as reflexões e o mais belo de todos os temas: a graça salvadora de Deus em Jesus Cristo, o dom inefável.

No entanto, além de afirmar – por interferência – que os bens materiais, quando usados com as boas motivações do amor e da alegria, tornam-se santificados a ponto de se poder associá-los ao que de mais santo há na vida, Paulo também nos chama a atenção para outra ligação que há entre as contribuições e Cristo.

Ora, se o apóstolo após chamar o gesto de contribuir de graça de Deus a nós (II Cor. 8:1,4), e de graça nossa à outros (II Cor. 8:7), e de graça de outros à nós (II Cor 9:12 e 14), o conecta à graça salvadora de Deus e ao dom inefável, então é porque o ato de contribuir é a resposta e a confissão econômica que fazemos da nossa compreensão teológica daquilo que recebemos por fé; um testemunho da nossa alegria da salvação e admoestação da “obediência da nossa confissão quanto ao evangelho de Cristo” (II Cor. 9:13b).

Por esta razão, contribuir não deve ser apenas uma banal opção que alguns cristãos fazem, mas uma resposta concreta e mensurável de nossa fé em Cristo e em sua Palavra. Contribuição é profissão de fé.

Contribuir é o “tomar da cruz” do discipulado econômico dAquele que nos convida a segui-lo, ensinando-os que, se necessário for, sendo ricos, devemos nos tornar pobres, para que outros se tornem ricos (II Cor. 8:9). E mais, que mesmo sendo pobres, devemos nos fazer mais pobres ainda, a fim de participarmos da graça de contribuir (II Cor. 8:2).

Quem recebeu o “dom inefável” demonstra esse recebimento manifestando uma nova atitude diante do dinheiro. Foi assim com Zaqueu.

Em nenhum momento Jesus afirmou sua salvação até que houvesse a conversão da atitude de Zaqueu diante dos bens materiais.

Aí então Jesus disse: “Hoje entrou salvação nesta casa...” (Lc. 19:9).

Por outro lado, a não percepção da grandeza do dom inefável desemboca numa opção velada e, tantas vezes, até educada de opção pelo dinheiro.

Foi o caso do jovem abastado e religioso, mas que não descobriu em Jesus o dom dos dons, a dádiva das dádivas, capaz de fazê-lo considerar os bens materiais como refugo.

Por isso, ele se retirou da presença de Jesus entristecido (Lc. 18:22 e 23).

Não é à toa que Jesus compara a descoberta do reino a um “achado” que provoca a venda de tudo o que se possui para se ter acesso a essa riqueza (Mt 13:44).

Não é também casual que Jesus tenha colocado o dinheiro como notoriamente perigoso no que tangia a afastar as pessoas da porta do reino (Lc. 18:24 e 25).

Com tantas advertências, o Novo Testamento não pretende deixar-nos neuróticos e transformar-nos em ascetas. Pelo contrário, somos estimulados a viver a vida com alegria e cosmovisão do nosso privilégio universal como herdeiros de Deus (I Co. 3:22; II Co 4:15 a ).

O próprio Paulo nos diz que Deus nos proporciona certos confortos para “o nosso aprazimento” (ITim. 6:17 b).

Todavia, todas essas coisas devem estar debaixo do senhorio absoluto do Senhor, e a maior prova de que estão, não é a quantidade de orações e de abstratas consagrações que alguém possa fazer de seus bens ou de sua conta bancária nos domingos de culto, no altar da igreja.

Essas contribuições mágicas, abstratas, esotéricas e sem conseqüências na vida real, na forma de generosidade, liberalidade, distribuição e graça, nada tem de relação com o senhorio de Cristo sobre nossos bens.

O senhorio de Cristo sobre os seus bens não é apenas orar pedindo ao Senhor que santifique o dinheiro com o qual se vai comprar um colar de pérolas para o seu uso pessoal.

O senhorio de Cristo se traduz na compreensão de que aquele colar de pérolas que adornará o seu pescoço em eventuais momentos, pode significar um indispensável recurso para sustentar missionários, socorrer necessitados ou deflagrar um processo evangelístico que salvará centenas de pessoas.

Chega de esoterismo de pseudo-consagrações dos nossos bens. Daqui para frente que fique claro para você que os seus bens materiais têm quem se converter numa resposta concreta de sua compreensão da graça divina. Use de maneira tão linda, generosa, liberal e santa os seus recursos materiais – poucos ou muitos – de tal maneira que você possa dizer:

“Graças a Deus, pelo dom inefável”.

Se a sua maneira de ser gracioso e dadivoso lembrar a você e a outros a graça e a bondade de Deus, então saiba, você começou, também na área financeira e econômica, a ser um discípulo de Jesus Cristo.

E assim, muitos glorificarão a “Deus pela obediência da sua confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade com que você contribui para eles e para todos, enquanto oram eles a seu favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em você”.

Se isso acontecer na sua vida, na minha vida e na igreja brasileira, então “graças a Deus pelo dom inefável”.

Jesus não terá morrido em vão e seu exemplo de graça e auto-empobrecimento não terá ficado sepultado e sem ressurreição. Pelo contrário, ter-se-á tornado uma especial graça em nossa vida, provocando um sério discipulado econômico e uma extraordinária ressurreição de liberdade e alegria de doar.

Que Deus nos tire a mesquinhez e a mediocridade e nos conduza à genero-sidade, ao gênero humano, à plenitude da estatura de Cristo, à imagem de Deus também nas nossas dadivosas contribuições.
“Tenho-vos mostrado em tudo que trabalhando assim, é mister socorrer aos necessitados, e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus:

Mais bem aventurado é dar que receber” (Atos 20:35).

Quem são os poucos que desejam a graça de contribuir?

Você é um deles?

Caio Fábio

Julho de 1986
Holanda

http://www.caiofabio.com/2009/conteudo.asp?codigo=03194

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